terça-feira, 13 de março de 2018

"Não tenho nem palavras", diz surfista cega que competiu na Barra da Lagoa

Ana Santiago arrancou aplausos da galera na areia e emocionou os professores que convivem com ela na associação

Foto: Felipe Carneiro / Diário Catarinense

Ana nunca viu o mar. Nascida de seis meses, ela perdeu a visão nos primeiros anos de vida. Há três meses, começou a praticar surfe na Associação Surf Sem

Fronteiras (ASSF), que oferece aulas gratuitas do esporte para pessoas com deficiência através de pranchas e materiais adaptados na areia da praia da Barra

da Lagoa. Como Ana, outras 27 pessoas com algum tipo de deficiência, física, intelectual ou mental, participaram das baterias no 1º Festival Surf Sem Fronteiras,

realizado neste fim de semana na Barra da Lagoa, em Florianópolis.

O evento começou neste sábado e segue no domingo. Mas para os participantes, a história começou antes, com o início das aulas às quintas-feiras e sábados

na Barra desde setembro do ano passado. Uma iniciativa que reúne psicólogos, surfistas, enfermeira, profissionais de educação física, entre outros, e que

mudou a vida de muita gente.

Aos 20 anos, Ana é uma delas. Segue sem enxergar, mas consegue sentir e curtir o mar como poucas. Prova disso era a felicidade da jovem moradora da Trindade

depois de surfar diante de um grande público e ser ovacionada por se manter em pé por toda onda.

Emocionada depois de sua bateria, Ana Santiago resumiu em poucas palavras o que sentia minutos após sair do mar. Disse, inicialmente, que não tinha palavras

para expressar o sentimento, mas em seguida encontrou a definição para aquilo que já mudou sua vida:

— É uma liberdade. Uma conexão com a natureza, comigo mesma, com meu corpo. Acho que é um grande espaço para a gente poder ocupar todos os lugares na sociedade.

Só precisamos de oportunidades iguais, porque o resto a gente consegue — ensina a jovem que emocionou também seus professores, todos orgulhosos da pupila.


Fundador e presidente da associação, Fidel Teixeira Lopes, também surfista adaptado, conta que a associação possui 30 voluntários que ensinam surfe no

mar da Barra para 12 alunos. Também participaram do festival, surfistas adaptados gaúchos, os Garopas, vindos de Caxias do Sul, e a Onda Azul, também da

Ilha de Santa Catarina.

Além do surfe, o evento teve música, yoga e muita diversão. Que o diga o garoto Cauã Pinto Dutra, 10 anos, de Caxias, pela primeira vem em Florianópolis

para participar do festival. Com paralisia cerebral, encontrou nas aulas de surfe uma alegria e confiança que contagia também a mãe, Elenita Pinto Dutra.


— Ele encontrou principalmente confiança, para saber que sim, ele também pode fazer as coisas. Sem falar das amizades, que é o que importa, né — resume.


Nervosa antes, realizada depois

FLORIANÓPOLIS, SC, BRASIL, 03-03-2018 - Projeto Surf Para Todos levou à Barra da Lagoa um campeonato de surfe para deficientes físicos na tarde deste
sábado. Na foto, Ana Santiago, deficiente visual, durante a onda.
Francielle abre os braços após pegar mais uma onda no Festival Surf Sem FronteirasFoto: Felipe Carneiro / Diário Catarinense

Os obstáculos que pessoas como Francielle dos Santos, 33 anos, encontram para praticar o surfe adaptado vão muito além das limitações de cada um ali. Ela,

por exemplo, teve as duas pernas amputadas aos 9 anos, após um tumor na barriga atingir sua veia aorta. Pouco tempo depois, se mudou do Rio Grande do Sul

para Florianópolis, onde mora até hoje em Ingleses.

Praticava natação, mas nas últimas semanas descobriu as aulas da associação na Barra da Lagoa. Participou de duas. E neste sábado, já uma bateria diante

de grande público. Ela estava nervosa. Os professores a acalmavam. E ela conseguiu. Surfou. Saiu da água com um sorrisão no rosto, plena, realizada. Mas

não deixou de lembrar o quanto poderia ser mais fácil praticar surfe adaptado nas praias da Ilha.

— Aqui na Barra e em Ingleses têm esses carrinhos para entrarmos na água, mas no Santinho não tem. Tinha que ter pelo menos uma cadeira em cada praia,

quantos não poderiam estar conhecendo e sentindo o mar como a gente — questiona.

Quem pode ser voluntário e como doar à associação

Quem quiser conhecer um pouco melhor o projeto da Associação Surf Sem Fronteiras basta acessar o site
www.surfsemfronteiras.com.

Surfistas com experiencia no surf ou bodyboard, nadadores, professores, pessoas da comunidade, pais de alunos, adolescentes, alunos de escolas de surf

ou outras escolas, estagiários de educação física ou outras áreas de interesse sobre cooperação técnica podem ser voluntários e participar do projeto.

A associação é sem fins lucrativos e se mantém através de doações, patrocínios e apoios. As doações são direcionadas para compra de materiais adaptados

e manutenção da entidade.

fonte Diário Catarinense

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