Instaladas de forma incorreta em muitos casos, as faixas de auxílio reservam armadilhas perigosas no caminho de cegos e pessoas com baixa visão
Por Dilson Júnior
(Felipe Fittipaldi/Divulgação)
Há 37 anos Maria da Glória Souza sai às 8h30 de sua casa, na Rua Cândido Gaffrée, na Urca, em direção ao trabalho, no Instituto Benjamin Constant (IBC),
centro de referência nacional na área da deficiência visual, que fica no mesmo bairro. Às escuras desde os 6 anos, quando um tumor cerebral paralisou e
atrofiou seu nervo óptico, a professora poderia ir caminhando até lá, mas prefere não se arriscar. “Acabo pegando um táxi porque sempre há um buraco novo
ou um carro estacionado em local proibido. Sem falar nas faixas táteis, que deveriam servir de guias e estão instaladas de forma incorreta”, alerta, chamando
atenção para um dos acessórios fundamentais na orientação e mobilidade de deficientes visuais em espaços públicos. Fixados no chão, em alto-relevo, com
cores contrastantes e materiais antiderrapantes, os chamados pisos podotáteis auxiliam na identificação de desníveis, obstáculos e outros perigos, além
de indicarem o caminho a ser percorrido com segurança. Se na teoria foram feitos para ajudar, na prática têm causado muitos problemas. “Prefiro me guiar
pelos muros em certos lugares. Não sei quando posso confiar nos pisos”, conta João Batista Alvarenga, revisor de textos em braile do instituto, onde dá
expediente diário, e morador do bairro do Sampaio, na Zona Suburbana.
Antes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, o programa Rotas Turísticas Acessíveis, capitaneado pela Secretaria Municipal de Turismo, a RioTur,
instalou 4 000 metros quadrados de faixas táteis nas redondezas de pontos turísticos cariocas com o intuito de beneficiar tanto visitantes quanto moradores
da cidade — segundo o IBGE, cerca de 3,1% da população tem algum tipo de deficiência visual. Especialistas afirmam, no entanto, que o serviço foi feito
às pressas, o que resultou em uma série de erros. Vizinho do Pão de Açúcar, uma das atrações contempladas, o entorno do IBC ganhou o piso especial, mas
alguns trechos se tornaram verdadeiras armadilhas (veja o quadro). Outro ponto crítico é o Boulevard Olímpico, onde a passagem do veículo leve sobre trilhos
(VLT) deixa os deficientes visuais ainda mais vulneráveis. Apesar do piso de alerta paralelo ao carril, a grande circulação de pessoas pelo calçadão já
danificou alguns pontos. Em outros, o equipamento nem sequer foi instalado. Ainda há casos em que o pavimento especial foi posicionado depois de uma série
de obstáculos na via. “Nas áreas abertas, como o Boulevard e a Praça Mauá, costumamos ficar desnorteados porque não existem muros ou guias que podem ser
usados como referência”, relata Vitor Alberto, professor de história e geografia do IBC. Procurada, a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente
informou que vai vistoriar os locais. embora as recentes obras de mobilidade urbana apontem para uma sociedade mais inclusiva, o caminho, ao que tudo indica,
ainda será longo.
Jogo dos Sete Erros
Lista de 7 itens
Rampas sem guias rebaixadas são um grande risco. A inclinação adequada das abas laterais é essencial também para cadeirantes, principalmente perto de travessias
1/7Rampas sem guias rebaixadas são um grande risco. A inclinação adequada das abas laterais é essencial também para cadeirantes, principalmente perto de
travessias (Felipe Fittipaldi/)
Além de haver obstáculos em cima da faixa, toda a extensão da rota que liga o Rio Sul ao Pão de Açúcar é escorregadia. Em locais abertos, o piso deve ser
antiderrapante
2/7Além de haver obstáculos em cima da faixa, toda a extensão da rota que liga o Rio Sul ao Pão de Açúcar é escorregadia. Em locais abertos, o piso deve
ser antiderrapante (Felipe Fittipaldi/)
Em frente ao Armazém 2 do Píer Mauá, um problema comum em vários pontos da cidade: o piso está localizado depois de um obstáculo, o que põe o deficiente
visual em risco
3/7Em frente ao Armazém 2 do Píer Mauá, um problema comum em vários pontos da cidade: o piso está localizado depois de um obstáculo, o que põe o deficiente
visual em risco (Felipe Fittipaldi/)
Sem a reposição das pastilhas, a sinalização de alerta nas faixas do entorno do VLT, que mostram por onde passa o veículo, sofre com a falta de manutenção
4/7Sem a reposição das pastilhas, a sinalização de alerta nas faixas do entorno do VLT, que mostram por onde passa o veículo, sofre com a falta de manutenção
(Felipe Fittipaldi/)
Uma corrente de ferro que protege o canteiro da Escola de Guerra Naval é o destino final do deficiente que confiar neste trecho
5/7Uma corrente de ferro que protege o canteiro da Escola de Guerra Naval é o destino final do deficiente que confiar neste trecho (Felipe Fittipaldi/)
Na Estação Parada Candelária do VLT, o piso tátil é da mesma cor que o restante do pavimento. A sinalização deve contrastar para auxiliar também pessoas
com baixa visão
6/7Na Estação Parada Candelária do VLT, o piso tátil é da mesma cor que o restante do pavimento. A sinalização deve contrastar para auxiliar também pessoas
com baixa visão (Felipe Fittipaldi/)
O piso foi posicionado muito próximo ao lancil localizado em frente ao Museu de Ciências da Terra. Qualquer saída mínima da rota pode causar um acidente
7/7O piso foi posicionado muito próximo ao lancil localizado em frente ao Museu de Ciências da Terra. Qualquer saída mínima da rota pode causar um acidente
(Felipe Fittipaldi/)
fim da lista
fonte veja rio
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