quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Goteiras, falta de acessibilidade e infiltrações marcam estreia da Estação Alencastro, em Cuiabá

Um casal de cego e cadeirante viveram de perto a dificuldade de embarcar em um ônibus no novo ponto climatizado inaugurado na sexta-feira (07)
Lázaro Borges,
da Redação

Ednilson Aguiar/Olivre

Estação Alencastro
José Ribeiro e Queila Auxiliadora (à direita) recebem ajuda de funcionários da Prefeitura e das empresas de ônibus, para poderem embarcar

José Ribeiro entra assustado no meio do vai-e-vem da recém-inaugurada Estação Alencastro. O cadeirante de 50 anos visita pela primeira vez o equipamento

público, cuja construção custou R$ 1,2 milhão aos cofres da Prefeitura de Cuiabá.

Ribeiro chega à Estação acompanhado da esposa, a deficiente visual Queila Auxiliadora, de 40 anos. Ao mesmo tempo em que guia a cadeira de rodas com as

mãos, José orienta a mulher sobre o melhor caminho para chegar até o ônibus. Na confusão do local, no entanto, os dois tem dificuldade de se localizar.


Desde o início o casal já percebe a falta de acessibilidade na Estação. O principal desafio está em descer do ônibus. Há um vão entre os degraus do veículo

e o pavimento da plataforma. Por conta disso, tanto os cadeirantes, quanto os deficientes visuais, precisam entrar pela porta de saída da estação.

“Primeiro eles sumiram com a minha mulher. Levaram ela lá para fora e nem me avisaram nada. Aí quando ela vai descer do ônibus tem um buraco, tem um vão

que você não consegue passar”, comentou Ribeiro. “Assim fica difícil para nós dois”, completou a esposa.

Ednilson Aguiar/Olivre

Estação Alencastro
Estação não possui passagem direta para os cadeirantes acessarem os veículos

Falta de visão

Até mesmo para aqueles com a visão saudável não é fácil saber quando o ônibus aguardado chega. Apesar do temporizador (que mede o tempo de chegada da linha

até a estação), a estrutura do ponto climatizado impede que o usuário consiga ver o letreiro dos ônibus. Por conta disso, dois agentes da Secretaria de

Mobilidade Urbana (Semob) orientam os passageiros.

Eles anunciam a linha do ônibus que acabou de chegar. De pé na frente das portas de vidro, os agentes apelidados de “amarelinhos” impedem que passageiros

tentem entrar pela porta de saída, sem pagar passagem. Nem sempre a tática dá certo.

“O nosso papel aqui é orientar quem precisa. Tem sempre alguém que quer entrar por fora. A gente faz o que é dentro do possível, adverte a pessoa, mas

se a pessoa não respeitar, nós não temos muito o que fazer, não somos seguranças”, falou um dos funcionários da Semob, que não quis se identificar.

A Prefeitura informou que a Estação Alencastro é um equipamento novo e que ainda está sendo adaptado. A presença destes funcionários, segundo nota enviada

ao LIVRE, serve para "analisar o comportamento dos usuários, ouvi-los e, assim, promover as adequações necessárias". O período de "adaptação" deve durar

pelo menos uma semana.

Ednilson Aguiar/Olivre

Estação Alencastro
O vão entre a plataforma e o ônibus é um risco não só para deficientes físicos, mas também para crianças e idosos

Goteiras e infiltrações

Críticas contra a Estação vieram também do meio político. No último domingo, um vídeo publicado por um vereador de Cuiabá mostra que goteiras e infiltrações

se espalhavam pelo teto de gesso do ponto de ônibus climatizado. O vídeo já teve mais de 57 compartilhamentos em rede social.

Algumas partes do acabamento têm de fato infiltrações, mas com o fim da chuva de domingo as goteiras acabaram. A Prefeitura respondeu, por meio de nota,

que a empresa responsável já foi notificada para averiguar o fato e promover o conserto necessário até esta terça-feira (9).

Opiniões divergentes

Apesar dos problemas pontuais, a Estação divide os cidadãos. Há quem acredite que o gasto foi exacerbado e que o valor poderia ser investido na mudança

da frota dos ônibus. Enquanto outros defendem que, por conta da localização e do fluxo de pessoas, a obra é mais do que necessária.

Ednilson Aguiar/Olivre

Estação Alencastro
Jackeline diz que é preciso equipar melhor os ônibus, pois é neles que o usuário passa mais tempo

“Eu achei bonito e legal o que foi feito, mas não adianta nada criar ponto aqui se nos bairros os ônibus estão todos sucateados, se a maioria dos ônibus

não tem ar-condicionado... Quem mora na região do Osmar Cabral, por exemplo, passa muito mais tempo dentro dos ônibus”, falou a recepcionista Jackeline

Aires, 33.

“Não tenho dúvida de que o preço para fazer foi alto sim, mas até agora pelo que eu vi eu estou gostando. O fato de ter ar-condicionado faz a espera ficar

mais confortável”, comentou o atendente Gabriel Farias, 21, que usou a Estação Alencastro pela primeira vez.

fonte o livre

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