domingo, 1 de outubro de 2017

Cegos aprendem matemática de forma divertida

Professora de computação Maria Adelina conduz projeto que elabora equipamento para facilitar o aprendizado Andrei Fialho
Você que tem ou teve filhos pequenos, possivelmente ensinou os números para eles. E claro, foi uma emoção ao vê-los contando até dez. A cada dezena decorada,

era uma alegria. Até aí, é tudo relativamente fácil, pois o que se aprendeu foram apenas uma verbalização - ou seja, palavras. A dificuldade começa na

associação dos valores numéricos com a fonética das palavras.

Dessa forma, peça à criança uma determinada quantidade de objetos que correspondam a um número sugerido. Mostre os dedos ou pegue palitos, por exemplo.

Solicite que lhe dê três unidades, posteriormente sete ou nove. Ela conseguirá lhe dar as quantidades correspondentes aos números solicitados?

Quando a criança faz essa associação do nome do número que ela pronuncia com a quantidade que representa, a partir dessa aprendizagem com assimilação visual

e fonética, é porque ela conseguiu construir a primeira base para o raciocínio lógico em matemática.

Na falta de visão

No caso das crianças cegas ou com dificuldades visuais há o problema da não observação e os números - decorados em palavras - não estão associados aos

reais valores que representam, ou seja, são abstratos. Esse problema faz com que a matemática, como é ensinada tradicionalmente, não faça sentido aos deficientes,

pois a visão faz parte dos sentidos necessários nesse aprendizado.

Quando a visão é ausente, o sentido do tato assume essa compensação. Assim, cegos identificam objetos e por eles podem ter referência de quantidade. As

unidades da Ulbra de Gravataí e Canoas estão desenvolvendo uma pesquisa de elaboração de um equipamento que facilita essa explicação das referências numéricas,

disponibilizando o tato e o áudio aos alunos.

Conheça o projeto

O projeto é uma iniciativa da pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática e do curso de Ciência da Computação, com apoio do Senai. A professora e

doutora em Informática na Educação Marlise Geller é coordenadora do projeto e a professora Maria Adelina Raupp Sganzerla, de Computação, aluna de doutorado

em Matemática, está como executora das pesquisas. A proposta é concluir até dezembro de 2018, um equipamento que seja modelo e referência para todas as

escolas especiais de ensino fundamental para deficientes visuais do Brasil.

A professora Maria Adelina conta que a inspiração desse projeto parte de um segmento da computação chamado de Tecnologias Assistivas. Ou seja, são aplicativos,

máquinas, computadores, entres outros, destinados para aqueles que possuem alguma necessidade especial. “A universidade propicia esse cenário de criação

e de experimentos. Para esse projeto, contamos com uma equipe de oito pessoas dentre professores, bacharéis e acadêmicos.”

Material dourado em máquina

O projeto constatou que a referência para o primeiro dispositivo seria dar movimento e voz ao chamado Material Dourado - peças didáticas que representam

unidades, dezenas e centenas - tradicionalmente usado nas escolas. “O Material Dourado oferece o tato perfeito para a representação das quantidades até

999. O nosso desafio foi de criar um mecanismo que faz movimentá-lo, parando onde queira demonstrar o número desejado, cabendo ao aluno tatear e assimilar

aquela correspondência numérica. Também há o áudio para confirmação, monitor e teclado para professor digitar sequências para que o aluno possa resolver,

teclar e ouvir a resposta.”

A máquina foi batizada de Contátil, em junção das palavras Contar + Tátil. “Ela apresenta opções de uso como o aprendizado dos números a partir de (0 até

999) e calculadora tátil para operações de adição, subtração, multiplicação e divisão, com resultados até 999 e somente com números positivos. Por exemplo,

se for digitado o valor 103, subirá três cubos da unidade, nenhuma barra da dezena e uma placa da centena. Dessa forma é possível trabalhar, além da quantidade,

o valor posicional de cada número.”

Em campo

Dois protótipos da Contátil estão sendo aplicadas em escolas especiais. As observações apontam os ajustes que as máquinas devem passar e também a percepção

do aprendizado de matemática com as crianças. “A aceitação está ótima, e notamos bem que os pequenos compreendem melhor a matemática. Eles também comentam

sobre melhorias e conforto. No início, os motores que movimentam as peças do material dourado faziam barulho, tiveram alunos que acertavam os valores só

pelo som da máquina”.
fonte Logo Diário de Cachoeirinha

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