domingo, 12 de março de 2017

Gaúcha apadrinha deficientes e sonha criar lar para ajudar mais jovens

Maria Alice Schuch tem 58 anos e nunca quis ter filhos; há 15, apadrinha. Moradora de Porto Alegre, ela quer unir arte e educação em seu projeto. Jessica MelloDo G1 RS Maria Alice Schuch tem 58 anos e é nascida e criada em Porto Alegre (Foto: Jessica Mello/G1) Nascida e criada em Porto Alegre, Maria Alice Schuch tem 58 anos e trabalha como representante comercial de material de construção. Nunca quis ter filhos. Mas se tornou mãe. Mãe à distância, como ela gosta de chamar. Há quase 15 anos, decidiu apadrinhar - ou "amadrinhar", como ela também fala - uma criança, que, por circunstâncias da vida, acabou sendo abandonada e/ou negligenciada, foi acolhida pelo Conselho Tutelar e encaminhada a um abrigo. Concretizou o desejo e, hoje, se vê feliz com a atitude tomada. Ela não tem apenas um, mas dois "afilhados", agora já adultos. Sem contar com apoio constante da família nos apadrinhamentos de Cristiano, hoje com 29 anos, e Bruno, de 27, ambos com deficiência mental, Maria Alice seguiu, quase sozinha, com sua decisão. Há 10 anos ela tem um relacionamento que, há quatro, tornou-se oficialmente uma união estável. O companheiro, no entanto, a acompanha nas visitas aos afilhados cerca de duas vezes por ano. Formada em artes plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Alice nunca exerceu propriamente a profissão - deu aulas em um supletivo por dois anos. Porém, manteve o amor pela arte. E é unindo as paixões de sua vida que ela sonha realizar um projeto. Quer construir um lar, onde arte e educação possam caminhar juntas, de maneira a ajudar pessoas como Bruno e Cristiano. Ainda não há nada concreto, mas a própria ideia de adotar os dois afilhados é algo que segue a linha do projeto. Bruno e Cristiano, os afilhados de Maria Alice pauta Dia da Mulher (Foto: Montagem sobre fotos Jessica Mello/G1) Bruno e Cristiano, os afilhados de Maria Alice (Foto: Montagem sobre fotos Jessica Mello/G1) Quero fazer um fechamento da minha vida, resgatar esses projetos que ficaram para trás Maria Alice Schuch "Quero fazer esses resgates, um fechamento da minha vida. Quase sessentona, preciso dar um jeito de correr. Quero resgatar esses projetos que ficaram para trás. Estou conseguindo, aos poucos, encaminhar isso", afirma. "Não sei se fiz a faculdade no momento errado, ou se não era para eu ter feito artes plásticas. Sou uma artista frustrada. Parei há muitos anos. Tive um processo de depressão muito grande. Fui me deprimindo e larguei a arte. Quero retomar", reflete. O apadrinhamento Há 15 anos, Maria Alice tinha o imaginário ideal de ajudar a cuidar de uma criança pequena. Isso nunca foi concretizado. Foram seus afilhados que a escolheram. O primeiro contato com Cristiano, na época com 14 anos, ocorreu durante um evento para que os padrinhos e madrinhas conhecessem seus possíveis afilhados. "Ô tia, quer que eu te ajude?", foi a primeira frase dita, uma vez que ela estava ajudando na organização de uma mesa de comidas. Desde então, Maria Alice relembra, o adolescente não deixou o seu lado. No momento marcado para que as novas "famílias" se formassem, Cristiano foi quem caminhou até a madrinha e fez a pergunta, "Tia, tu quer ser a minha dinda?". "Nesse momento também quase chorei, me emocionei. E disse 'Eu quero'", lembra. O apadrinhamento de Bruno aconteceu cerca de cinco anos depois. Ele morava com Cristiano no mesmo abrigo e eram amigos. Maria Alice afetuou-se ao garoto. As visitas a ambos costumam acontecer de 15 em 15 dias, frequência que os padrinhos/madrinhas precisam assumir para entrarem no programa. A comerciante sai para passear com eles e até os inclui em algumas atividades familiares, sempre que possível. "Hoje, eles fazem parte da minha vida. Considero como se fosse filhos. Não tenho vínculo sanguíneo, mas se tivesse que responder por eles, responderia", encerra. Maria Alice Schuch (Foto: Jéssica Mello/G1) História de vida Nascida no final da década de 1950, Maria Alice viveu outros tempos no Brasil. Foi criada ainda com o conceito de que meninas deveriam ser "mocinhas", e os meninos deveriam ser "machões". Algo que sempre a revoltou. Em outra época, porém, sentia que não tinha forças para questionar tudo isso e mudar a sociedade sozinha. Em sua casa, era a única que apontava para as diferenças de criação. "Isso me angustiava e me revoltava. Me dava conta de que não poderia ser daquele jeito. Mas não tinha força para mudar", diz. Para ela, o maior problema do machismo segue sendo a criação. O problema começa ainda criança, dentro de casa. Por isso, tão fundamental é a consciência dos pais para educarem seus filhos desde cedo a serem igualitários e a respeitarem. "É difícil ser mulher. É muito difícil. É questão familiar, é questão da sociedade, é questão de ventre. Quando tu está sendo gerada, tu já tem dentro de ti uma carga que tu nem nasceu ainda e tu não é capaz de suportar", afirma.  fonte  g1

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