sábado, 11 de fevereiro de 2017

Jovem surdo tira nota mil na redação do Enem e é aprovado

G1 publicou o perfil de Bernardo Lucas Piñon de Manfredi Site externo, que possui deficiência auditiva e motora e foi um dos alunos com nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Confira o texto na íntegra: Bernardo Lucas Piñon de Manfredi, de 19 anos, foi um dos 77 alunos que tiraram nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio ( Enem Site externo). Ele foi aprovado no curso de filosofia na UFRJ e na PUC-Rio – escolheu se matricular na universidade particular, porque conquistou uma bolsa filantrópica que cobre integralmente a mensalidade. O jovem resume sua história em uma frase: “Sou um vencedor”. Bernardo foi vítima de uma contaminação em uma maternidade do Rio de Janeiro. De todos os bebês que sofreram a infecção bacteriana na ocasião, apenas ele sobreviveu. Seu quadro melhorou após ser transferido para outro hospital, receber doações de sangue da irmã e frequentar um centro de reabilitação. Como sequelas, ele tem surdez severa bilateral (nos dois ouvidos), disgrafia profunda (dificuldade na escrita) e transtorno psicomotor nos braços e nas mãos. Seu objetivo de tirar a nota máxima na redação era, portanto, um desafio. A escrita traz dores nas mãos do jovem – mesmo assim, ele conta que redigiu 130 textos em 2016, para melhorar seu desempenho nas dissertações. “Eu não me cansava, sempre procurava fazer mais e mais redações, porque era a minha meta tirar nota mil. Assistia a todas as aulas, não deixava passar nenhuma dúvida e tinha fé de que eu chegaria lá”, conta. No Enem, Bernardo teve uma hora a mais que os outros candidatos para fazer a prova, tanto no sábado quanto no domingo. Ele escreveu o rascunho da redação, mas levou duas horas e meia para isso. Quando faltava uma hora e meia, ditou o que havia redigido para que o transcritor passasse o texto a limpo. Trajetória na escola Bernardo não domina a Língua Brasileira de Sinais (Libras) – compreende o que as pessoas falam por leitura labial. “O problema é que aí não veem as minhas dificuldades. Por isso, tive que lidar com agressões e discriminação”, conta. Na educação infantil, a mãe do menino, Carmen Pereira, ficava com ele na escola. “Ela foi a principal mensageira dos meus problemas para as pessoas. Foi uma luta diária, ninguém sabia lidar comigo”, diz. “Quando cheguei na alfabetização, uma professora me assumiu e consegui aprender a ler e a escrever.” Bernardo cursou o ensino fundamental em uma escola pública do Rio de Janeiro. Depois, ganhou uma bolsa no Colégio Palas, instituição privada. “Passei a viver os melhores momentos da minha vida escolar, porque os professores me acolheram muito bem, respeitaram a minha dificuldade, mas nunca me tratavam como um incapaz. Viam em mim uma capacidade enorme e só me estimularam a seguir em frente”, conta. No último ano do ensino médio, concluído em 2016, o jovem foi escolhido como orador da turma. “Não fico feliz só por isso, mas por poder mostrar ao Brasil e ao mundo que tudo é possível”, diz. Mudanças necessárias Apesar de ter conseguido concluir o ensino médio e entrar na universidade, Bernardo afirma que a realidade das pessoas com deficiência ainda é cruel. “Mas é possível mudar. Não adianta o governo apenas obrigar as escolas a aceitarem esses alunos. É preciso mudar o padrão pedagógico e estimular a formação de profissionais especializados e qualificados”, afirma. “É necessário, sobretudo, que haja um contato maior com as pessoas que têm deficiência. Só conhecemos e entendemos isso quando convivemos com elas.” Planos “É incrível que, mesmo com todo o diagnóstico da minha dificuldade de escrever, eu amo contar histórias”, diz. Ele compõe poemas e crônicas desde os 12 anos. Em 2017, pretende escrever o primeiro livro – começará em março, mas o roteiro ainda não está definido. “Só sei que vai ser sobre filosofia.” Esse é o assunto favorito do jovem. Ele afirma querer lecionar, porque ama ensinar. “Além de professor, também desejo ser um filósofo atuante, um antropólogo e um cientista que se preocupa com a humanidade.” Fonte: Portal G1

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