segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Deficientes podem voltar para a rua até o fim do mês caso estado não pague abrigo

início do grupo Abrigo não recebe dinheiro do Estado Foto: Roberto Moreyra / Extra - Cidade Bruno Alfano Maria Isabel Abreu, de 47 anos, foi abandonada pela família. Cadeirante com paralisia cerebral, a mineira chegou ao Rio ainda criança e viveu a vida toda em abrigo. No fim do mês, ela pode ser novamente abandonada — agora, pelo governo do estado. Bebel vive no Abrigo Betel, em Duque de Caxias, financiada pela Fundação da Infância e do Adolescente (FIA) e pela Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos. No entanto, o local não recebe os repasses desde fevereiro e acumula dívidas de R$ 1,8 milhões, a mesma quantia que o estado tem que lhe pagar. Sem saída, a previsão é que, caso não haja uma solução até o fim deste mês, feche as portas. — Eles correm o risco de ir para a rua. Não tem instituição que possa acolhê-los. Estão todas na mesma situação que a gente — conta Daniel Cavaleiro Ignácio, diretor do abrigo: — Estamos abertos até agora por doações e por quatro empréstimos que fizemos. Mas agora não dá mais. Vamos fechar se nada acontecer até lá. No fim de 2016, o governo do estado rompeu o convênio que a FIA tinha com 109 instituições como o Betel, que tem casas em Caxias e na Mangueira onde moram 71 pessoas, entre crianças e adultos. Dos 64 funcionários que trabalhavam no local, metade foi demitida. Quem ficou está com salários atrasados. — O trabalho é muito árduo. A maior parte dos moradores daqui usa fraldas. Tem que ter muito amor — diz Maria José Cavaleiro Rosa da Silva, presidente do espaço. As histórias dos abrigados são das mais variadas — em comum, o abandono muito cedo. Um dos moradores, quando era criança, vivia amarrado pelo pai e continua até hoje na posição em que era atado. Outro menino tem histórico de abuso sexual por um parente. Mas não é só a tristeza do passado que os une: eles também se encontraram no Betel. — Aqui a gente é tratado bem. Nem penso na possibilidade de fechar. Deus vai ajudar — afirmou Bebel. Só amanhã O governador Pezão afirmou que está correndo para pagar a dívida com as instituições. Ao todo, o estado deve R$ 23 milhões com todas elas. No entanto, ele afirmou que ainda não tem prazo: “Só segunda, quando assinar o acordo, tenho uma noção melhor”. Ele negocia ajuda econômica com o governo federal. Passando a bola Já a Secretaria de Direitos Humanos afirmou que emitiu todas as notas para a Secretaria Estadual de Fazenda e tem cobrado cotidianamente o repasse da verba. “Diante de tal problema e ciente da situação caótica das unidades, a secretaria tem procurado as prefeituras para negociar a municipalização dos abrigos". Na justiça O deputado estadual Márcio Pacheco (PSC), presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Alerj, pediu ao Ministério Público uma ação bloqueando as contas do estado para o pagamento das instituições: “Se esta rede parar, vai ser um verdadeiro colapso. O Estado não tem equipamentos para atender a essa demanda. O orçamento da FIA é três mil vezes menor que os gastos gerais do Estado. É uma vergonha dever a elas”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário