domingo, 25 de setembro de 2016

‘O transplante me devolveu a visão, a fala e o equilíbrio

Afastada da TV para tratar a esclerose múltipla, uma doença crônica do sistema nervoso central, a atriz e intérprete de personagens hilários Cláudia Rodrigues, 45, foi submetida recentemente a um transplante de células-tronco. Esse procedimento para esclerose já é hoje a principal indicação de tratamento para doenças autoimunes em todo o mundo, segundo o médico e hematologista Nelson Hamerschlak, responsável pelo tratamento da humorista. “Foi o transplante que me tirou a fadiga, me devolveu 1,5 grau da visão, a minha voz e o meu jeito de falar, me devolveu o equilíbrio e a memória”, conta Cláudia. Ela foi diagnosticada em 2000, após passar por uma bateria de exames, e depois de sentir seu braço “adormecer” em cima do palco no teatro. De lá pra cá, a atriz buscou várias alternativas para amenizar os sintomas e retardar a progressão da doença, como remédios à base de corticoides, infusão com um anticorpo humanizado (Natalizumabe), uma das opções de medicação mais potentes. “Tive que mudar a alimentação e fazer exercícios, fisioterapia, terapia, ortóptica, terapia ocupacional e fisioneurológica”, lembra. Mas Cláudia havia deixado de responder aos tratamentos convencionais. Foi quando decidiu, junto com a equipe médica que a acompanha, fazer o transplante. Porém, o médico diz que o procedimento implica um risco real, embora pequeno, de mortalidade, e sua indicação não deve ser banalizada. Além disso, antes da cirurgia, a atriz foi submetida a um rigoroso processo de preparação, que envolve altas doses de quimioterapia, para modular o sistema imunológico. (Veja o infográfico) Infográfico da renovação do sistema imunológico através do implante de células-tronco. O transplante não cura a esclerose múltipla, mas, uma vez que a doença faz com que o sistema imune ataque os nervos do próprio paciente, a retirada e infusão de células progenitoras autólogas – isto é, retiradas do próprio indivíduo – “apaga” a memória celular e, então, o “novo” sistema imunológico deixa de atacar as fibras nervosas, “estaciona” a doença, devolvendo a qualidade de vida ao paciente. “É um desliga e liga do sistema imunológico. O pós-procedimento costuma correr bem”, diz Hamerschlak. Usada desde 1993, quando ocorreram os primeiros relatos na literatura, a terapia vem apresentando bons resultados. “Os últimos estudos mostraram que 25% dos pacientes com índices de incapacidade podem melhorar, e 50% ficam estáveis sem necessidade de novos tratamentos por anos. Em outros 25%, infelizmente, o procedimento não foi capaz de deter a progressão da doença”, afirma o médico. Cerca de 75% dos pacientes estabilizam-se na progressão dos sintomas ou até melhoram, e muitos deixam de apresentar crises por mais de cinco anos. Por conta da doença, Cláudia Rodrigues se afastou dos seus personagens, mas garante que hoje encara a doença “numa boa”, e, se fica agitada, busca refúgio na Bíblia. Minientrevista Cláudia Rodrigues, atriz e humorista Em entrevista ao programa “Raul Gil”, você afirmou que a demissão da Globo foi “um golpe”. Você voltaria a fazer trabalhos lá? Eu fui muito mal interpretada nesse comentário, talvez eu não tenha me expressado bem. Eu quis dizer que foi um balde de água fria, uma decepção, eu realmente não esperava ser demitida. Mas isso afetou sua saúde. Os médicos associam meu último surto à forte emoção e à decepção que eu tive com a demissão da Globo. E por isso tive que fazer o transplante, para melhorar as sequelas que o surto causou e ter uma qualidade melhor de vida. Pode detalhar como foi o assalto que sofreu recentemente? Quando paramos no cruzamento, dois homens armados chegaram à janela do meu lado e pediram para sair do carro. Um deles me arrancou do carro e me jogou no chão, e ele pisou no meu tornozelo com muita violência. Em seguida eles resolveram matar a gente e iriam começar pela Iza (filha). Quando ele engatilhou e apontou para ela, me joguei na frente. Saiu a máscara, e ele perguntou: “Talia? É você, Claudia Rodrigues? Sou seu fã!”, e em seguida ele me mandou ir embora rápido antes que ele desistisse de não nos matar. No assalto você fraturou o pé, e a volta ao trabalho prevista para o final do ano teve que ser adiada. O que você pode nos adiantar sobre isso? Estou fazendo tudo para voltar. Está tudo preparado. Em 2017, eu volto com tudo. Vou fazer uma peça de teatro infantil (“Menino Repolho”), um canal no YouTube, palestra motivacional (Claudia Rodrigues, uma história de superação), meu pocket show de comédia (“E aí, Claudinha?!?”), lançamento do meu livro (Claudia Rodrigues, a Doméstica de Deus) e um programa para TV, mas sobre isso não posso falar nada ainda. Assim que se recuperar, qual é a primeira coisa que você deseja fazer? Voltar a fazer minhas caminhadas na orla, meus exercícios, voltar a gravar meu canal e ensaiar a peça, que era o que eu estava fazendo. Aí minha felicidade estará completa. (LM) Lesões cerebrais foram claramente reduzidas, mostra estudo dos EUA Um estudo publicado na revista norte-americana “Neurology” avaliou resultados de longo prazo do efeito do transplante de células-tronco no tratamento de Esclerose Múltipla (EM). Uma avaliação neurológica e ressonância magnética foi feita em 35 pacientes com Esclerose Múltipla do tipo agressiva tratados com o transplante e acompanhados por 11 anos. Os resultados foram: lesões cerebrais significativamente reduzidas e aumento da sobrevida livre de progressão da doença de 15 anos em 44% dos pacientes com a forma ativa da doença e em 10% para aqueles sem doença ativa. A conclusão foi que o transplante teve melhor resultado em pacientes com a forma agressiva ainda na fase inflamatória da enfermidade. Para casos de EM de evolução maligna, o transplante pode salvar vidas. Fonte: site do Jornal O Tempo por Litza Mattos – Fonte Infográfico: Hospital Israelita Albert Eistein.

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