sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Brasileiro cria óculos que “lê” ambiente para deficientes visuais
Não é de hoje que pessoas com deficiência física no Brasil vivem com dificuldades por conta da falta de recursos de acessibilidade disponíveis no país.
Pensando nisso, o pesquisador carioca Wallace Ugulino resolveu dedicar a tese de doutorado ao desenvolvimento de um equipamento que facilitasse a rotina
de deficientes visuais. Após meses de estudo, ele criou um óculos que mapeia e descreve ambientes para quem tem problemas parcial ou total de visão.
A ausência de pisos táteis, textos em braile e audiodescrições não só impede a independência de deficientes visuais como também representa perigo aos que
já conquistaram autonomia. Foi pensando nisso que o estudante do
Departamento de Informática
do Centro Técnico Científico
da PUC-Rio
desenvolveu o equipamento.
Classificada como “wearable tecnology”, ou tecnologia vestível, a ferramenta transmite dados sobre locais mapeados e é composta por um um cinto, um par
de luvas e um óculos. Por meio do cinto e das luvas, o usuário recebe vibrações que indicam quando estiver passando por algum ponto de referência. Já o
óculos, fornece informações verbalizadas sobre essa referência, seja ela uma porta ou algum objeto no meio do caminho.
O principal objetivo do acessório, que está em fase de testes no instituto de ensino para deficientes visuais
Benjamin Constant,
é facilitar o reconhecimento de ambientes e, consequentemente, a locomoção.
O pesquisador, que tem 35 anos, explica como, apesar de não ter amigos ou parentes próximos com a deficiência, se interessou pela área de tecnologia assistiva.
“O que me motivou inicialmente foi o desafio. Como a minha profissão valoriza a observação dos aspectos humanos na produção de tecnologia, resolvi observar
durante 8 meses o dia-a-dia dos alunos de reabilitação do Instituto Benjamin Constant”, afirma. “Durante esse período me apaixonei pela área assistiva
para deficientes visuais e segui em frente com a pesquisa”, acrescenta.
Ao participar de experimentos com os olhos vendados como parte da pesquisa de campo, Wallace percebeu a sobrecarga cognitiva inerente à mobilidade de pedestres
cegos.
Pude comprovar que andar em linha reta é dificílimo por causa de estímulos externos que desviam a nossa atenção. Isso abriu meus olhos (com o perdão do
trocadilho) para a utilidade dessa pesquisa para todos e não só para os cegos"
Wallace Ugulino
“Imagine se a tecnologia que nos cerca não nos tomasse tanta atenção? Já parou para calcular o quanto o simples fato de trocar uma música no rádio pode
te expor a uma batida de carro?”, questiona, afirmando que a ferramenta pode evitar acidentes até de pessoas que não tem nenhum tipo de problema visual.
O que surgiu como um “simples desafio” para o carioca, se tornou uma meta de vida: produzir tecnologias que demandem menos atenção para todos. Tudo isso
graças ao que aprendeu com os cegos.” Aprendi com os deficientes visuais a necessidade de termos mais cuidado no preparo das interfaces computacionais
para que elas requeiram o mínimo de atenção possível do usuário”, declara.
Sobre o mercado de tecnologia assistiva no Brasil, o pesquisador revela: “Há bons grupos de pesquisa distribuídos pelo país, mas falta incentivo. É necessário
investimento
público e leis que incentivem a participação de empresas privadas a apoiar financeiramente tais projetos de inclusão”.
Brasileiro cria óculos que “lê” ambiente para deficientes visuais
fonte metropolis
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