segunda-feira, 15 de agosto de 2016

700 mil brasileiros poderiam estar enxergando com diagnóstico precoce de glaucoma

O glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo, perdendo apenas para a catarata, segundo um estudo realizado pela Evidências – Kantar Health. Irreversível, a doença atinge o nervo ótico, que faz a transmissão de imagens do olho para o cérebro. Desenvolvendo-se lentamente, o paciente não percebe que possui o glaucoma até perder 90% do nervo ótico. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 285 milhões de pessoas no mundo vivem com baixa visão ou cegueira. No Brasil, o número de cegos chega a 1,2 milhões, dos quais cerca de 60% a 80% são casos evitáveis ou tratáveis. Em entrevista para o Bahia Notícias, Remo Susanna Júnior, professor e chefe do departamento de oftalmologia da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que é de extrema importância a visita frequente ao oftalmologista, principalmente para os pacientes que possuem histórico familiar da doença. 700 mil brasileiros poderiam estar enxergando se tivessem recebido diagnóstico e tratamento apropriado a tempo, ainda de acordo com a OMS. Cerca de 2% da população mundial é afetada pelo glaucoma, podendo chegar a 7% em pessoas com mais de 70 anos, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). O que é o glaucoma? Quais são os sintomas? Oglaucoma é uma lesão do nervo ótico. O nervo ótico é o nervo que conduz a imagem do olho ao cérebro. Ele não tem dores, não sente frio ou calor, só transmite a imagem. O glaucoma leva essa estrutura impedindo a comunicação do olho com o cérebro. De tal forma, que mesmo com o cérebro em perfeito estado, a pessoa não enxerga. É uma doença geralmente associada as pressões intra-oculares elevadas, mas não obrigatoriamente. Pode ter uma pessoa que tenha uma pressão média baixa no olho, mas que aquela pressão seja alta para aquele olho, o que pode danificar o nervo. Existem 25 tipos ou mais de glaucoma. O mais comum deles, que é chamado glaucoma de ângulo aberto, ocorre praticamente entre 4 a 6% da população acima de 45 anos e de 10 a 12% das pessoas acima de 65 anos. O glaucoma é totalmente assintomático, a pessoa não percebe nada. Quando a pessoa começa a perceber mesmo, ela já perdeu 90% do seu nervo ótico. Daí um fato importantíssimo que é o diagnóstico da doença pelo médico. É muito importante que familiares de pacientes que tiveram glaucoma sempre alertem o seu oftalmologista e perguntem qual é o estado do nervo ótico e como está a pressão. Os familiares têm entre 10 e 15% de mais chances para desenvolver a doença do que quem não tem histórico na família. Qual é o grupo de risco da doença? Quais são as formas de prevenção? Os negros têm mais tendência a ter o glaucoma. Chega a ter quase o dobro de chance de desenvolver a doença. Os diabéticos e os míopes também têm mais tendência. Esses são os principais grupos de risco. Para prevenir a doença, o paciente deve ir regularmente a um oftalmologista e se ele tiver um parente com glaucoma, deve avisar ao seu médico. Se a pessoa estiver nos grupos de risco, deve obrigatoriamente passar no oftalmologista uma vez por ano. Normalmente o paciente não frequenta o oftalmologista por achar que está enxergando bem. Mas isso não é argumento porque, como eu disse, o paciente só vai perceber a doença quando já perdeu quase 90% do nervo ótico. Então é uma excelente oportunidade de detectar a doença antes que ele note. Como é viver com a doença? Existem tratamentos novos? Possíveis curas? Não existe cura para o glaucoma. O glaucoma é controlável, mas não é curável. Existem vários tratamentos e várias formas novas de tratamento, como colírios novos mais potentes. Geralmente se começa o tratamento com colírios e, quando eles não são suficientes, em alguns casos são usados lasers, e quando isso também não é suficiente existem vários tipos de cirurgias possíveis e colocação de implantes no olho para aumentar a drenagem e diminuir a pressão do olho. Isso é importante porque, embora a pressão não seja tão importante para o diagnóstico da doença, ela é crucial no tratamento. É o único fator que nós podemos mudar para reduzir ou parar a progressão da doença. Para o paciente que se submete a cirurgia, qual o tempo médio de recuperação? A cirurgia mais comum é a trabeculectomia que tem o tempo médio de recuperação entre 4 a 6 semanas. Nessa cirurgia se faz um pertuito no olho que não existia. E o organismo vai querer fechá-lo através do poder da cicatrização, que é uma das armas mais poderosas que o ser humano possui. O que nós temos que evitar é que o pertuito cicatrize, ele deve manter aberto. Esse período de 4 a 6 semanas é decisivo para que haja um controle disso. Quando se opera o glaucoma o problema da pressão está resolvido? Entre 85% a 95% dos casos a gente consegue baixar a pressão com auxílio de colírios ou só com a cirurgia. Em torno de 85% a 95% você consegue abaixar essa pressão com a cirurgia convencional. Quando isso não é alcançado, podemos ir aos implantes que irão começar o ciclo destrutivo, onde a parte do órgão que produz líquido no olho é destruída, assim ele produz menos líquido, diminuindo a pressão. As pessoas ainda costumam confundir glaucoma e catarata. Quais as diferenças entre elas? A catarata é uma doença do cristalino. É uma opacidade do cristalino, que é a lente que você tem dentro do olho. Você tem duas importantes lentes no olho: uma é a córnea, que tem 44 graus na sua parte central e só tem meio milímetro de espessura; e a lente interna, essa assim é auto regulável, foca em várias posições da visão, que é o cristalino, que tem esse nome por ser tão transparente como o cristal. Quando ele se opacifica, ele se chama catarata. Operando-se a catarata, substituindo essa lente do olho que travou por uma outra, o paciente recupera totalmente a visão. Já o glaucoma, o que ele perdeu é irreversível. A cirurgia não reverte a parte que foi perdida da visão. A cirurgia com o tratamento diminui a chance de a doença continuar progredindo. Recentemente em mutirões de glaucoma e catarata alguns pacientes ficaram cegos e tiveram que tirar o globo ocular. Os casos ocorreram em mutirões de São Paulo e na Bahia. Existe riscos nesse tipo de atendimento? Existe, tanto é que aconteceu isso. Não foram cirurgias de glaucoma, foram só cirurgias de catarata. Não existem mutirões de glaucomas disseminados no Brasil, de vez em quando pontualmente fazem-se os mutirões para diminuir a fila de espera dos hospitais. Mas isso ocorreu em uma cirurgia de catarata por contaminação seriada que levou a uma infecção intraocular gravíssima que acaba gerando, com frequência, uma remoção do globo ocular. Qual é a probabilidade da cirurgia dar certo? Apesar do tratamento nos Estados Unidos, no último recorte que saiu, 15% dos pacientes tratados fiaram cegos. Mesmo tratados. O tratamento não significa que o paciente vai evitar a cegueira. O tratamento correto, bem seguido, com o paciente usando a medicação como prescrita, essa sim evita a cegueira. Mas o simples fato de tratar não quer dizer que o paciente não fique cego. O paciente precisa frequentar o oftalmologista, fazer exames de campo visual, medidas de pressão e picos de pressão. O paciente com glaucoma tem que ser sempre bem tratado e realizar exames frequentemente para verificar o estado da doença, além de seguir rigorosamente a prescrição médica. Fonte: http://www.bahianoticias.com.br/saude/entrevista/375-700-mil-brasileiros...

Nenhum comentário:

Postar um comentário