sexta-feira, 29 de maio de 2015

Natação Inclusiva busca apoio da reitoria

Cadeirante ao lado da piscina. A Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE) oferece diversos cursos comunitários como forma de atividades de extensão. Além de colaborar para a manutenção da saúde e qualidade de vida dos alunos inscritos, também é uma boa maneira dos graduandos praticarem o que é ensinado em sala de aula através de um estágio ou monitoria. Além do público em geral, a escola também oferece um curso de natação para pessoas com deficiência, seja ela intelectual, sensorial ou motora. Frente à necessidade de pagar muitos estagiários para atender às demandas específicas de cada aluno, o curso destinado às pessoas mais comprometidas corre o risco de ser enxugado ou até mesmo fechado, já que não existe no Júpiter Web – sistema online da USP responsável por arquivar o desempenho do aluno nos diversos âmbitos da faculdade, desde a graduação até o estágio – uma opção de horas de estágio condizente com às cumpridas pelos graduandos. A importância do esporte para deficientes O esporte para deficientes teve início sob o aspecto terapêutico da prática da atividade física. O grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, indicava banhos e exercícios para pessoas com deficiência como forma de instrumento de tratamento da saúde. Já nos anos 40, logo após a segunda guerra mundial, a atividade física começou a ser aplicada em lesados modulares e paraplégicos provenientes das batalhas. Além de tratar a parte motora, o esporte também ajudava no setor emocional do paciente. Elisabeth de Mattos é professora da EEFE e ministra as disciplinas Esporte e Deficiência I e II. Além disso, ela é a responsável pelo programa “Natação Inclusiva”, destinado a pessoas com deficiência: “o esporte tem importância no aspecto terapêutico e no social, sendo uma forma de trazer o aluno de volta para o convívio, mesmo que seja um convívio segregado. Com isso, o esporte é um instrumento grande de inclusão, trazendo uma vida de cidadania plena”. Natação Inclusiva O programa, criado há 18 anos, atende pessoas com diversos tipos de deficiência. O futuro aluno passa por uma triagem gratuita para saber se consegue entrar sem problemas na piscina e acompanhar as aulas. “Essa triagem é justamente para termos uma avaliação inicial do aluno e para ver se ele gosta da piscina”, conta Elisabeth de Mattos. Existem três níveis de curso: a adaptação, para o aluno que não sabe nadar, a iniciação, para o indivíduo que sabe nadar porém não sabe os estilos, e por fim o condicionamento físico, destinado às pessoas que já sabem nadar dois ou três estilos e vão fazer um condicionamento parecido com o de uma academia. Os alunos nadam duas vezes por semana, mas as aulas não estão focadas em competições. “A partir do momento em que o aluno chega no condicionamento físico, que eu chamo de aperfeiçoamento, ele está pronto pra ir para um clube, ter um curso regular e até ir para competições. Caso ele não queira, pode continuar nesse de manutenção”, explica Elisabeth de Mattos. Limitações Mesmo oferecendo um curso para pessoas com deficiência, o espaço da piscina não é tão adaptado como deveria. “A piscina não tem todas as adaptações que eu gostaria que tivesse. Embora eu tenha um elevador hidráulico portátil, ele é muito demorado. Se todos os alunos precisassem usá-lo, até o final da aula eu não teria colocado todos na água. Então apenas um ou outro eventualmente o usam. Fora isso, eles têm que aprender a entrar e sair da água sozinhos ou então nós temos que conseguir içá-los para fora da água”, conta a professora. Outro problema estrutural é o vestiário. Mesmo sendo adaptado para atender esse público, ele não é misto, o que traz dificuldades na hora de trazer acompanhantes. “Existem diversas situações em que o deficiente precisa de um acompanhante no vestiário para se trocar e tomar banho, porém esse acompanhante é de sexo diferente do aluno, como por exemplo mãe e filho ou marido e mulher. É complicado, as mães têm que dar um jeito de vir com os filhos no vestiário feminino em um horário de menos movimento, ou se não eles só passam no chuveirinho e vão embora de roupão mesmo. Se a pessoa não se sentir a vontade por causa dessas limitações, provavelmente não vai frequentar nosso curso”, conta Elisabeth de Mattos. Curso em risco As aulas de sexta-feira são destinadas aos alunos muito comprometidos, seja cognitivamente ou fisicamente, portanto cada um precisa de um instrutor individualizado. Essa parte do curso é deficitário, já que o pagamento realizado pelos alunos não cobre o pagamento dos monitores. Além disso, a universidade só oferece dois tipos de estágios remunerados: de 20 ou 30 horas semanais. “Estou tendo um problema sério com a USP. Se tivesse um campinho no Júpiter onde eu pudesse selecionar um estágio de 12 horas semanais, os monitores já teriam as horas da aula em si mais as do planejamento, das reuniões semanais de uma hora e da leitura de atualização. Ou seja, eu tenho como completar um estágio de 12 horas. Daí com o valor que a gente arrecada, já que esses cursos são pagos, eu teria como pagar o meu estagiário e manter o curso”, conta a professora. Devido à falta dessa terceira opção para estágios da USP no sistema Júpiter WEB, a professora está correndo o risco de fechar o programa depois de 18 anos. A diretoria da escola enviou uma carta para a reitoria tratando desse tópico em mais algumas outras pendências, porém Elisabeth não recebeu uma resposta para sua demanda: “Eles responderam às outras coisas e nem sequer tocaram no assunto disso. Nós não vamos poder continuar assim porque se eu tiver que colocar um estagiário e pagar o valor de 20 horas, nós não teremos esse dinheiro e vai ser mais um ônus para a própria universidade”. Atualmente o “Natação Inclusiva” possui cerca de 120 alunos cadastrados. Contudo, com o problema de pagamento de estagiários, o curso corre o risco de diminuir para apenas 20, que é a quantidade de alunos que o coordenador consegue atender nesses horários. “Na sexta que são as pessoas muito comprometidas, é um aluno para cada monitor, então como vamos fazer? Se o estagiário quiser vir só de sexta ele vai ganhar duas aulas só. Não posso pagar 20 horas para ele trabalhar duas, que ao todo vão dar 5 horas semanais somando com o planejamento. Ou seja, ele estará ganhando 15 horas a mais do que deveria. Vou estar jogando dinheiro fora. Eu acho isso contra producente para o aluno USP. Mas e como eu faço com o curso? Porque está difícil de falar com a reitoria”, explica Elisabeth de Mattos. Além de um enorme prejuízo para os alunos de natação, é também para os estagiários, graduandos da EEFE. “Eu poderia fazer esse curso somente com o aluno e seu acompanhante, e o coordenador auxiliaria de fora. Mesmo assim eu teria que enxugar o curso e não teria a mesma vivência para o estagiário, que é muito rica. E também não teria a mesma vivência para os alunos. Então é um problema. É esse o modelo que eu tenho atualmente”, conta a professora Elisabeth de Mattos. O Jornal do Campus tentou entrar em contato com a reitoria da universidade, porém não recebeu nenhuma resposta antes do fechamento desta edição. Fonte: site Jornal do Campus por Mariana Miranda.

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