sábado, 21 de fevereiro de 2015
Programador cadeirante se destaca com aplicativo para pessoas com deficiência
Portal Nacional de Tecnologia Assistiva
20/02/2015
Aos 23 anos, João foi um dos participantes de uma Maratona de Negócios promovida pelo Sebrae na Campus Party 2015.
da Redação
Quando nasceu, João Santiago foi dado como morto. Só respirou depois de três minutos, quando se entendeu que a rigidez dos membros era resultado de uma
paralisia cerebral. Sua mãe sabia que ali começava uma jornada que exigiria coragem do caçula de três filhos, mas não imaginou que ele fosse tomar tanto
gosto por superar desafios, especialmente os que aparecem na forma de código fonte na tela do computador.
Aos 23 anos, João foi um dos participantes de uma Maratona de Negócios promovida pelo Sebrae na Campus Party 2015.Ele saiu de Fortaleza e acampou com a
mãe na São Paulo Expo.durante os cinco dias do evento, para competir com o aplicativo que criou para ajudar pessoas que, assim como ele, usam cadeira de
rodas. O app Dâ para ir?é colaborativo e fornece informações sobre a acessibilidadede diferentes estabelecimentos, além de listas com as regiões mais acessíveis
de diversas cidades brasileiras.
A ideia surgiu quando João foi convidado por amigos para ir a um bar e ficou receoso por não saber se o local era acessível. Estudante de Ciências da Computação,
aprendeu a programar aos oito anos de idade estudando sozinho pela internet. Não parou mais. Nem quando os dedos das suas mãos enrijeceram.
Ele chegou na Campus Party com o aplicativo construído com os códigos que criou apenas com o dedo indicador da mão esquerda. “Gosto muito de programar
porque é um desafio a cada projeto. É muito bom ver o que eu criei na tela do computador”, explica, com o sorriso aberto que pontua cada frase e se esparrama
pelo corpo em uma gargalhada ofegante.
João chamou a atenção dos organizadores da Maratona de Negócios e de Juliana Glasser, da desenvolvedora de software Carambola, que foi designada pelo Sebrae
para ser mentora de João e ajudá-lo em seu projeto. Encantada com a história do garoto, ela fez sua equipe passar a madrugada de quarta para quinta-feira
ajudando João a colocar o app no ar.
Os dois não se desgrudaram mais. Desde então, Juliana criou um site e página nas redes sociais para o app, e se tornou a intérprete oficial de João, que
tem dificuldade na fala.
Quando ele se expressa, a língua se embola no céu da boca enquanto o corpo acompanha em um movimento retorcido o som abafado de cada palavra.
A deficiência física, no entanto, não afeta sua capacidade mental. Em Fortaleza, ele faz trabalhos como desenvolvedor freelancer e dá aulas em um grupo
de estudo na faculdade, mas nunca conseguiu um trabalho porque nas entrevistas sua fala e aparência incomodam.
“As pessoas acham que eu sou retardado por falar diferente”, diz. “Eu tento relevar porque eu sei que eles são limitados e eu tenho um entendimento melhor
do que o deles”, diz com um sorriso.
Emocionada com a determinação do pupilo, Juliana ofereceu a ele um estágio como desenvolvedor na sua startup. Apesar da distância – ela está em São Paulo
e ele em Fortaleza – ela diz que ele não terá problema em se integrar com a equipe pela internet. “Fiquei encantada porque eu gosto de gente forte, e ele
sabe muito bem o que quer”, diz Juliana. “Agora ele vai ter a experiência de trabalhar com outras pessoas e melhorar seu conhecimento.”
Terapia
A mãe de João, Eliza Santiago, conta que em junho o filho amanheceu diferente. Não lembrava do pai, dos irmãos e nem da filha, de seis anos. “Ele só lembrava
de mim. Nenhum médico sabe explicar até agora o que aconteceu”, diz. Ele não esqueceu, porém, da paixão por computação. Com a ajuda dos amigos e da família,
relembrou aos poucos a linguagem dos códigos. “Gosto de programar porque me relaxa e me ajuda a esquecer dos problemas que, assim como todo mundo, eu tenho”,
explica.
A repercussão positiva do aplicativo Dá pra ir? na Campus Party trouxe um sopro de ar fresco para a vida de João, que agora quer criar apps para ajudar
pessoas com outras deficiências. Como exemplo, cita a ideia de criar uma plataforma para indicar restaurantes com cardápios em braile a cegos. “Quero ser
empreendedor. Tenho muitas ideias de aplicativos e sei que consigo fazer tudo que eu quiser, porque sou igual a todo mundo.”
Como funciona o Dá pra ir?
O aplicativo Dá pra ir? está disponível apenas para o sistema Android. O app foi lançado em uma versão de testes e o link para download está disponível
no site oficial da iniciativa e na Google Play Store.
No ar desde a última quinta-feira, o aplicativo depende da colaboração dos usuários para enriquecer suabase de dados, que usa informações do Google Maps
e do Foursquare para localizar estabelecimentos de todo o País.
A primeira aba do aplicativo permite buscar estabelecimentos e avaliar a sua acessibilidade em diferentes quesitos, como se possui rampas e calçadas rebaixadas,
banheiros adaptados, espaço livre para circulação, piso tátil, corrimão nas escadas e chão com irregularidades.
Em uma segunda aba fica o mapa da acessibilidade, que mostra em quais lugares nas regiões próximas ao usuário se encontram estabelecimentos acessíveis
para visitar.
No teste feito pelo Start, o aplicativo ainda apresentou alguns bugs e conta com uma base de estabelecimentos cadastrados pequena, a maioria deles em Fortaleza,
região que João conhece em detalhes. O criador do app e a sua mentora Juliana no entanto, afirmam que estão trabalhando no aprimoramento do aplicativo
e pedem para que mais pessoas testem e colaborem com o sistema para ampliar as informações do seu banco de dados.
Fonte: Estadão
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