segunda-feira, 12 de maio de 2014

Apesar da Lei de Cotas, inclusão de pessoas com deficiência física no mercado de trabalho ainda é desafio

Preconceito é o principal obstáculo para quem procura emprego, independente da qualificação. Ana Carolina Neira Poucos sabem, mas desde julho de 1991 existe uma lei que estabelece que entre 2% e 5% dos funcionários de uma empresa devem ser pessoas com deficiência, sem discriminação de tipo. No entanto, o aparato judicial não é suficiente para que eles realmente se integrem ao mercado de trabalho e à sociedade de modo geral. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 45, 6 milhões de pessoas com deficiência. Entre os entraves de quem procura uma vaga de emprego, o mais alarmante ainda é o preconceito. “Hoje você encontra pessoas capacitadas, mas a maior parte das vagas são para produção, ajudante de cozinha. As pessoas não expõem a pessoa deficiente ao público, eles ainda temem isso. O mundo é preconceituoso”, explica a gerente de recursos humanos Fernanda Winckler, da empresa de recrutamento Winckle RH. Segundo ela, a procura se intensificou graças à lei, mas os postos de trabalho ainda são limitados: “Para vagas de produção, eu tenho uma média de dez vagas e cinco candidatos. Em uma vaga administrativa, são quatro pessoas para uma vaga, gente capacitada e com experiência”, diz. Além disso, as próprias empresas ainda enfrentam obstáculos para receber funcionários com deficiência: “É uma vaga que precisa ser muito bem colocada, restringem o tipo de deficiência por questões de acessibilidade, por exemplo”, afirma Fernanda. Para ela, a procura ainda está longe do necessário no mercado de trabalho. A jornalista Heloísa Rocha, de 29 anos, trabalha como redatora na rádio Gazeta AM, mas conquistar um espaço no mercado de trabalho exigiu determinação: “Minha maior dificuldade foi conquistar determinada vaga. Um famoso banco não me contratou por alegar que eu tinha um currículo muito bom mas não me encaixava nas vagas oferecidas. Estranhamente, eu era a pessoa com melhor nível de escolaridade e deficiência mais grave”. Heloísa tem uma doença rara chamada osteogênese imperfeita, conhecida como ossos de cristal, caracteriza pela fragilidade óssea. A jornalista convive com um dos níveis mais graves da doença e, além de escoliose e baixa estatura, possui os membros superiores e inferiores curvados, por conta das fraturas que já sofreu. Por tais motivos, ela utiliza uma cadeira de rodas para se locomover. Outro episódio da vida profissional da jovem envolve uma editora que, preocupada com as dificuldades dela, ficou reticente quanto à contratação: “O pessoal havia me selecionado, mas estavam em dúvida se me contratavam pelo fato de eu precisar de ajuda para ir ao banheiro e, indignada, eu recusei a proposta”, afirma. “O problema não está na pessoa ser cega ou ter uma deficiência física. O problema está na indústria, que não prepara adequadamente para receber essas pessoas e permitir que elas sejam produtivas”, afirma José Carlos do Carmo, coordenador do Programa de Inclusão da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo (SRTE/SP). Para ele, a cultura dentro das empresas é que precisa ser repensada: “querem contratar cegos que enxergam, surdos que escutam e cadeirantes que saem andando". Atualmente, 77% das 1.165 pessoas com deficiência física entrevistadas pelo DataSenado, o instituto de pesquisas do Senado Federal, afirmam que não têm seus direitos respeitados. A análise foi feita com base no cadastro do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), com 10.273 registrados. Fiscalização Um ponto chave para melhorar a situação das pessoas com deficiência que procuram um emprego está na fiscalização que deve ser feita nas empresas e que envolve não apenas o cumprimento da Lei de Cotas, mas também a existência de acessibilidade. Carmo explica que ainda é preciso avançar nesse sentido, uma vez que apenas os casos de denúncia em relação à acessibilidade tem sido atendidos: “Objetivamente nós não temos tido pernas sequer para verificar a contratação em si. Mas estamos buscando maneiras de darmos conta desses aspectos. Por hora, de um modo geral e pela experiência aqui de São Paulo, a gente tem ido atrás apenas nas situações de denúncia”, revela. ¤ fonte:rede saci

Nenhum comentário:

Postar um comentário