domingo, 23 de fevereiro de 2014

ESPECIAL: Um olhar pela ponta dos dedos

À primeira vista, uma exposição diferente ao olhar do visitante. Uma mostra que reúne 20 obras que não podem ser vistas, mas, sim, tocadas, sentidas. Em um ambiente de aproximadamente 50 m², no segundo piso do Jundiaí Shopping, a atração às escuras “Na Ponta dos Dedos” nos convida a um raro exercício: estimular outros sentidos na ausência da visão. Ali, envolto ao breu total, tem-se a chance de estabelecer um contato sensorial com outro mundo, que vai sendo descortinado aos poucos. Nesse novo universo, cegos servem de guias aos visitantes, numa curiosa inversão de papeis do nosso dia a dia. 02/um-olhar Logo de cara, um corredor escuro que dá acesso às obras privou meu grupo de qualquer tipo de contato com a claridade. O repórter fotográfico Paulo Grégio e o coordenador dos Diretos das Pessoas com Deficiência, Reinaldo Fernandes, faziam parte da empreitada. Os olhos estranham, piscam mais rápido. O senso espacial se confunde. A ideia de que precisamos uns dos outros é aguçada. Todos seguem numa pequena fila indiana, ligados com a mão direita estendida no ombro do visitante da frente. Sozinho não se vai a lugar algum. Somos guiados pelo presidente da União dos Deficientes de Jundiaí e Região, Magno Henrique Mendes, de 30 anos, indicado pela Coordenadoria para atuar como guia durante o período da exposição. Magno sofreu um descolamento de retina ao cair do telhado quando tinha 9 anos. Teve de reaprender tudo. Sua última lição inclui dar banho em seu primeiro filho, recém-nascido. “Você desenvolve a atenção em outros sentidos, como o tato e a audição.” $file/exposicao_na_ponta_dos_dedos_p_30G Mostra conta com apoio da Coordenadoria dos Direitos das Pessoas com Deficiência Experiência Na escuridão total, somos expostos a painéis de diferentes texturas e relevos. As mãos tateiam com calma, na busca da compreensão do que está sendo exposto. Por aproximadamente 25 minutos, toda conexão é feita por meio do tato, da audição (uma trilha melodiosa serve de pano de fundo para vários depoimentos sobre a vida) e do olfato, já que é possível sentir um breve aroma de floral de bambu, o que a autora da mostra, Tatiana Passos Zylberberg, definiu como “o cheiro da vida”. Depois, com a ponta dos dedos, foi possível compreender algumas palavras-chave sobre o espírito da mostra, como “acolher”, “respeitar” e “cuidar”. Termos mais próximos quando nos permitimos entender a experiência do cego. Ao final, já ambientado à escuridão, a claridade da saída pode ofuscar. “Na Ponta dos Dedos” segue até o dia 1º de dezembro. A atração é resultado de uma parceria entre a Associação Cegos do Bem (Acebem), de Campinas, com Prefeitura de Jundiaí, por meio da Coordenadoria dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Em uma semana, mais de 500 pessoas já visitaram o local. “Acho incrível o poder de superação dessas pessoas, em trabalhar os outros sentidos para interagir ainda mais com a vida. Todos deveriam passar por essa experiência”, comenta o coordenador Reinaldo. Para o diretor da Associação Cegos do Bem, Silvio Henrique Girotto, “trata-se de um convite a uma experiência sensorial, de respeito e compreensão às diferenças”. Aos 34 anos, Silvio, que tem baixa visão por conta de um erro médico quando tinha 4 anos, é nutricionista e advogado. Sua palavra-chave é “superação”. Thiago Secco Fotos: Paulo Grégio Fonte : http://www2.jundiai.sp.gov.br/

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