domingo, 13 de janeiro de 2013

Livro conta história de Heldy, surdocega que se comunica pelo tato!

Quando tinha pouco mais de um ano de idade, tudo que Heldyeine sabia
fazer era chorar e se arrastar de costas no chão, o que lhe deixava com
falhas no couro
cabeludo.

Mariana Versolato

Surdocega congênita por causa da rubéola contraída pela mãe na gravidez,
a criança parecia isolada.

Pouco a pouco, Heldy foi aprendendo a pegar objetos, andar,
alimentar-se, tomar banho, reconhecer pessoas e emoções, expressar
desejos e interagir com o
mundo, tudo por meio do toque.

Hoje, aos 21, Heldyeine Soares se comunica por Libras (Língua Brasileira
de Sinais) tátil --os sinais são feitos nas mãos, que ficam em forma de
concha,
para que ela os sinta e os interprete.

Seu mundo, feito de gestos que identificavam coisas e pessoas, foi sendo
traduzido para a Libras tátil, o que ampliou suas possibilidades de
interação e
abstração.

A história da menina acaba de ser publicada no livro "Heldy Meu Nome --
Rompendo as barreiras da surdocegueira", escrito pela pedagoga Ana Maria
de Barros
Silva, impressionada com o desempenho de Heldyeine.

"Essa é uma história de sucesso que não poderia ficar apagada.
Surdocegos congênitos como ela tendem a ficar isolados, não têm esse
desenvolvimento", diz
a autora, que trabalha há 40 anos com a educação de surdocegos.

Grande parte desse sucesso é mérito da professora aposentada Marly
Cavalcanti Soares, do Instituto dos Cegos de Fortaleza, que encarou o
desafio de ensinar
a menina, apesar de ter poucos recursos e de seu desconhecimento sobre a
surdocegueira.

O livro só pôde ser escrito graças aos seus detalhados relatórios do
progresso de Heldy. Anotava cada conquista, tirava fotos e fazia vídeos,
batizados
de "Renascer".

Os textos dão uma ideia de como o progresso foi alcançado e comemorado e
mostram como Heldy aprendia rápido e dava sinais de que queria mais.
Depois de
aprender a andar, já recusava a ajuda da professora para subir escadas,
como se pedisse mais autonomia.

Ela logo conseguiu identificar as pessoas --reconhecia a professora
pelas blusas com botões e tinha um gesto para cada membro da família.

PARCERIA

Junto com Marly, a mãe e as irmãs de Heldy lutaram para que a menina se
desenvolvesse dessa forma.

De origem simples, a família de Maracanaú (a 15 km de Fortaleza, CE)
levava quase duas horas para chegar ao Instituto dos Cegos de Fortaleza
de ônibus.

A mãe, Jane, abandonada pelo ex-marido, cuidava sozinha de Heldy e das
duas filhas mais velhas. Apesar das dificuldades, insistia na atenção
especial à
caçula.

"A Heldy é quem ela é hoje graças a Deus, à minha mãe e à tia Marly, que
provou que, por amor, é possível tornar uma pessoa capaz como ela fez",
conta Heldijane
Cidrao, 26, irmã de Heldy.

Heldijane cuida da irmã desde os cinco anos --era chamada pela
professora de "pequena grande mãe". Envolveu-se tanto que se casou com o
professor de Libras
de Heldy, que é surdo, e se tornou intérprete de surdos e surdocegos.

"Esse livro me emociona porque ler é como viver tudo de novo. Quando eu
tinha seis anos, a tia Marly me colocou no colo e me disse que, quando
eu tivesse
sede, Heldy também teria e que eu deveria dar água a ela. Quando
estivesse com fome, deveria dar algo de comer a Heldy. Hoje tenho uma
filha de seis anos
e me imagino fazendo tudo que fiz na idade dela."

Agora, Heldy tem bastante autonomia --a família só não deixa que saia na
rua sozinha ou cozinhe. Frequenta o Instituto de Surdos de Fortaleza
para aprimorar
seu conhecimento de Libras e faz bijuterias no tempo livre.

Algumas das anotações da professora Marly que estão no livro são
dirigidas diretamente a Heldy. Seu sonho era que um dia a menina pudesse
ler sua própria
história.

Os primeiros capítulos foram enviados à jovem em braile --ela lê, mas
não fluentemente --e o livro todo deve ser lançado nesse formato.

HELDY MEU NOME
EDITORA United Press
PREÇO R$ 22,90 (219 páginas)

¤

 fonte folha de sp

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