sábado, 15 de dezembro de 2012

Piso para cegos acaba em muro em avenida da zona oeste de São Paulo

Piso tátil para cegos foi feito na calçada da avenida Faria Lima, altura do número 1.478.

da Redação

Um trecho do piso tátil para cegos feito recentemente na avenida Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, leva de maneira inesperada o pedestre para um
muro,
em vez de conduzi-lo para a rampa de acesso ao semáforo. As calçadas recém-reformadas da avenida passaram a contar no mês passado com os pisos vermelhos

feitos com riscos em relevo que auxiliam na locomoção dos cegos, conhecido como piso tátil direcional.

No entanto, no trecho que envolve o cruzamento da avenida Faria Lima com a avenida Eusébio Matoso, o cego que circular pelo piso tátil terminará se deparando

com uma mureta e uma moita, sem qualquer mudança no piso que o certifique de que terá um obstáculo. Essa alteração faz parte das normas para a construção

desse tipo de piso.

Em outros trechos da Faria Lima pode-se observar que quase todos os pisos levam o pedestre cego às rampas de acesso aos semáforos. Assim, ele tem tempo

de se situar e poder perguntar para alguém se o sinal está verde ou vermelho e atravessar para seguir em frente.

Desvio necessário
Segundo João Felippe, professor de orientação e mobilidade da Laramara (Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual), deveria haver algum

desvio que impedisse o cego de bater no muro e que o levasse ao lado do semáforo. Curiosamente, a mureta se encontra no lado oposto.

“O que geralmente a gente indica é que o piso de acesso não entre em contato com nenhum obstáculo. Como ele está caminhando para uma parede, se tiver possibilidade,

deveria se fazer o desvio dessa mureta. Agora, se não tiver espaço, deveria ter colocado um piso de alerta um pouco antes, para ele saber que algo de diferente

vai acontecer”, disse Felippe.

O piso de alerta, também conhecido como piso braile, é uma faixa de 50 cm, feita com bolas em relevo, fáceis de perceber com a bengala e mesmo com os pés.

Elas aparecem também em rampas usadas para cadeirantes. O piso riscado que aparece na foto é chamado piso direcional.

Outra opção neste caso, segundo Felippe, seria criar um desvio para o lado da rampa de acesso ao semáforo, em vez de ter terminado o piso no próprio muro.


“Esse piso direcional deveria ser desviado na calçada para outro ponto. Se ele [o cego] tiver usando adequadamente a bengala, pode tocar na mureta e desviar.

Mas já que existe passagem para um dos lados, deveria ter o desvio para lá”, afirma.

Eliana Cunha Lima, gerente de serviços especializados da Fundação Dorina Nowill para Cegos, concorda que há problemas no piso. Para ela, a obra foi feita

de ‘forma inadequada’.

“Só conseguimos tornar adequado a instalação de um piso tátil se houver análise de vários fatores que vão desde a escolha do material e medidas que devem

obedecer as normas da ABNT até e principalmente abranger a necessidade real de instalação em um determinado local, tendo em conta as demandas da população

que irá utilizá-lo”, disse em nota.

Para Lima, mais do que obedecer a normas de acessibilidade em vigência, o fundamental na escolha dos locais de instalação dos pisos táteis é levar em conta

a rotina de deslocamento das pessoas cegas e com baixa visão.

“O nosso foco deve ser sempre a pessoa que utilizará os recursos e não somente o cumprimento de normatizações legais”, reitera.

Outro lado
A subprefeitura de Pinheiros, responsável pela obra, disse que a solução adotada para o piso tátil instalado no trecho ‘está em conformidade com as referências

dispostas na ABNT NBR9050:2004’.

“Para o referido trecho, onde a calçada possui curvatura à direita e grande quantidade de tampas de concessionárias junto ao pavimento, optou-se por levar

o piso direcional a uma guia de balizamento, de forma que o pedestre possa caminhar com segurança até a travessia. Esclarecemos que a guia de balizamento,

construída junto ao canteiro, tem a função de orientar o percurso do usuário na calçada. A função do piso direcional só pode ser plena se este conduzir

o pedestre a um caminho livre de interferências”, disse em nota.

Entre 2009 e 2012, a prefeitura já reformou mais de 545 mil m² de passeios públicos e rotas nas avenidas Paulista, Santo Amaro e Faria Lima, onde ‘foram

implantadas medidas de acessibilidade’, segundo informações da subprefeitura de Pinheiros.

Nesta quinta-feira (13), é celebrado em todo o país o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual. Dados do Censo 2010, o mais recente divulgado sobre

o tema, mostrou que a deficiência visual é o tipo mais comum de deficiência no Brasil, atingindo 35,8 milhões de pessoas com dificuldade para enxergar

(18,8%), mesmo de óculos ou lentes de contato.

A deficiência visual severa (pessoas que declararam ter grande dificuldade de enxergar ou que não conseguiam de modo algum) atinge 6,6 milhões de pessoas,

sendo que 506,3 mil são cegas (0,3%), segundo dados do levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
 fonte deficiente ciente

Nenhum comentário:

Postar um comentário