domingo, 1 de julho de 2012

REFLEXAO!

No mundo dos cegos, encontram-se maravilhas jamais vistas por
aqueles que possuem os olhos bem abertos para o mundo. Na verdade, as
maiores, mais
belas, mais desejadas e gostosas coisas da vida, não estão por aí,
espalhadas na face da terra à disposição de todos. Estão, sim,
reservadas para poucos,
somente para aqueles que conseguem enxergar, não com os olhos, mas com a
virtude da consciência, do respeito e da dignidade humana.
Não enxergar é ter nos olhos a sensibilidade e a percepção de
conseguir imagens criadas pela mente e, tenham a certeza de que todas
são muito, maiores
e belas do que as deixadas à nossa disposição. O Deus que tanto amamos
não seria capaz de criar rios, cachoeiras, montanhas, lagos, pássaros,
sons melodiosos
e paladares deliciosos, se morasse na amplidão azul do céu e de lá
dirigindo a nossa sensibilidade e percepção naturais. Não seria capaz de
fazer tantas
coisas e, se realmente as fizesse, não seriam tão belas e majestosas
quanto aquelas que estão na imaginação dos que não enxergam.
O homem precisa entender que em suas mãos, estão o destino do
mundo e de tudo que nele existe. Compreender que só a honestidade poderá
levá-lo ao
caminho certo, subsidiá-la com respeito, dignidade e acima de tudo, sem
preconceitos e parcialidades.
Ter a imparcialidade do cego que de todos se aproxima sem
receios, indiferente à sua aparência física ou material; a dignidade de
dar as mãos, sem
perceber ou reconhecer na oponente, as suas nódoas ou ações indevidas.
Apenas dar as mãos, transferir-lhes um pouco do seu calor humano e até
diminuir-lhes
as possíveis máculas.
Como é maravilhoso o mundo dos cegos! Não ter o dissabor de
observar nas feições daquele que lhe beija a face, os traços da traição
e nem perceber
nas mãos que lhe afagam, os instantes de retração, mas apenas as sentir.
Não ver é uma dádiva e não castigo. É ter no seu olfato a sensibilidade
de sentir
o verdadeiro aroma das rosas, jasmins, gardênias e muitas outras,
imaginando-as tão mais belas que, não teria o próprio Deus, a capacidade
de criá-las.

Poder sentir, através do seu apurado tato, as diferentes formas
e variações de corpos e superfícies, sentindo-as como são: ásperas ou
lisas, agradáveis
ou intrigantes, sem influências da visão, sem repugná-las, apenas as
aceitando. Criar através do seu sentido maior, formas e cores que
justifiquem a percepção
do seu tato e do seu ilusório, que sempre atingem a integridade da
satisfação pessoal. Ser cego é poder analisar a cada fato com isenção,
porque se não
consegue o presenciar, é capaz de, com sua acuidade de sentimento,
decidir pela verdade e não ser traído pela mídia no momento do fato. A
insegurança que
dirige seus passos pelos caminhos da vida é também a mola mestra que lhe
possibilita dar tempo à mente, para uma decisão convicta e que, se por
vezes errada,
jamais o leva a um falso ideal.
Caso não desfrute da queda de uma cachoeira, também não crava em
sua alma a tristeza de uma lágrima que rola numa face sofredora, também
não cria
a paisagem de fundo, para o rebento das ondas do mar agitado, como não é
capaz de criar o pano de fundo dos trovões. Mas, certamente, cria-os,
porém sempre
mais belos que a densa e branca espuma que sobe nos rochedos e, bem
menos desagradáveis que o rigor do breu da noite e menos temeroso que os
clarões dos
raios.
Ser cego é estar mais perto de Deus, melhor entendê-lo, senti-lo
mais verídico, poder desfrutá-lo. Esse Deus até pequeno, tão pequeno que
cabe na
mente de cada um de nós. Possivelmente, uma partícula ínfima, razão
porque não a detectamos nem a percebemos, por mais que se avance na
ciência. Provavelmente,
invisível, mas sua presença é indiscutível e inolvidável, divisível,
multiplicável. Poderemos também somá-la, mas, jamais subtraí-la. Caso,
isso ocorra,
seremos apenas homens e não seres humanos.
Os olhos que vêem o mundo não param mais de chorar e os que
jamais o viram, são capazes de amá-lo.

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