quarta-feira, 6 de junho de 2012

A Informática, uma janela aberta para os cegos As novas tecnologias são símbolo de enorme desenvolvimento em todos os quadrantes. Quando há poucas décadas nasceu a Informática, os cépticos não vislumbraram o seu largo alcance. Mas ela foi-se impondo de tal forma que hoje é impossível ignorá-la. No que diz respeito à acessibilidade para os deficientes, volvidos alguns anos, começaram a delinear-se e a abrir-se amplos horizontes em muitas vertentes. Uma delas contemplou os invisuais. Em relação à Acessibilidade e Tecnologias de Apoio, antes da implementação dos meios informáticos, podemos citar a invenção, em 1808, por um italiano da primeira máquina de escrever para ajudar as pessoas cegas a escreverem de forma legível. Alexander Graham Bell, em 1876, inventou o telefone porque a sua mãe e a sua mulher eram surdas. O controlo remoto foi inventado para as pessoas com limitações de mobilidade. Em 1935, foi criado o primeiro aparelho para reproduzir livros falados. Em 1936, foi a vez do primeiro sintetizador de voz. Em 1975, Kurzweil inventou o primeiro digitalizador, scanner, que hoje usamos no escritório, para possibilitar a leitura de livros por pessoas cegas. Há imenso trabalho investido, com progressos já bem visíveis e prosseguem diversas e afanosas investigações, visando a concretização dos meios para que os cegos possam digitalizar, escrever, ler, tratar, imprimir, converter, exportar e importar ficheiros, compor música, orquestrar, fazer alterações, isto é: ter a possibilidade de manejar e rentabilizar os softwares disponíveis e usufruir das ferramentas facilitadoras das suas dificuldades. Este trabalho está a ser levado a cabo por diversas entidades, cada qual com as suas motivações, tais como, associações de deficientes, governos, produtores de material especializado, ajudas técnicas, grandes companhias de softwares... Significa que, em todos os tempos, esteve sempre presente a solidariedade para com os mais desfavorecidos. Especificamente, agora, referir-me-ei a mais algumas invenções e a alguns aspectos marcantes que a Informática proporcionou e proporciona aos utentes cegos. Louis Braille, que cegou aos três anos, por ter espetado uma sovela num dos olhos e que, entretanto, lhe afectou o outro, perdendo totalmente a visão, internado numa instituição parisiense, sentiu necessidade de comunicar com os demais seres humanos e de ter acesso à cultura. Assim, em 1825, inventa um sistema, que mais tarde tomou o seu nome, constituído por seis pontos, em duas filas verticais de três, num total de 63 símbolos. Este processo de leitura e de escrita através de pontos em relevo é usado, actualmente, em todo o mundo. Trata-se de um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se adapta a todas as necessidades dos utilizadores, quer nas línguas e em toda a espécie de grafias, quer na matemática, física, música, informática, etc. Actualmente, uma das funcionalidades de alguns softwares, como o Braille Music Editor, é a transformação do teclado do computador em teclado de máquina Braille, usando as letras f, d, s (pontos 1, 2, 3) e j, k, l (pontos 4, 5, 6, respectivamente). A barra de espaços assume a sua função normal. Mais tarde, Ballu, também francês e ainda através de pontos, inventa um sistema que reproduz as letras de imprensa. É uma forma de escrever directamente para quem vê, mas trata-se de uma escrita excessivamente morosa, pela qual, aliás, fiz os exames da 4.a classe e admissão ao liceu. Seguidamente, um inglês chamado Moon, adoptou a mesma estratégia para a impressão informatizada, criando o código Moon, que, ainda hoje, é possível utilizar em algumas impressoras Braille. Nas décadas de 50-60 houve o bom senso de ministrar aos cegos o curso de dactilografia, preparando-os para apresentar os seus trabalhos dactilografados. Deram-se, de facto, passos incontestáveis para a sua integração, comunicabilidade e independência. A Informática, porém, ao aglutinar e desenvolver os eventos já citados, tornou-se numa ferramenta que, cada vez mais, os cegos têm presente, porque vem preencher incontáveis lacunas. No final da década de 80 surge o primeiro leitor de ecrã e um sintetizador de voz, para o sistema operativo MS-DOS, que possibilitou, essencialmente, a utilização dos softwares de processamento de texto, tais como Word Perfect e Word Star, de folhas de cálculo, como o Lotus 1-2-3, de gestão de bases de dados, como o DBase, etc. No auge da utilização do Windows 95, apareceram vários leitores de ecrã, que, numas línguas mais cedo, noutras mais tarde, puderam ser ouvidos através das colunas do computador, dispensando assim um sintetizador específico, e começando a possibilitar o uso do mesmo hardware que a generalidade das pessoas... Em Portugal, nesta época, apenas dois softwares deste tipo existiam e havia ainda a necessidade da utilização de um sintetizador externo... A década de 90 é a era da competitividade, aparecendo em Portugal diversos leitores e alguns com muita qualidade, como, por exemplo, o Jaws. Tornou-se possível navegar na Internet e, mercê da criação constante de novos scripts, é mais fácil trabalhar com quase todos os softwares. Um dos grandes obstáculos que se levanta aos invisuais é a impossibilidade de usar o rato, muito embora já haja algumas novidades e prossigam grandes investigações, principalmente no capítulo da interactividade do rato com o utilizador, possibilitando sentir as imagens e as texturas... Não podendo utilizar o rato, para cada software, é necessário recorrer constantemente aos menus, ou decorar inúmeros comandos por teclado, que quando executados efectuam a mesma acção que as opções dos menus ou barras de ferramentas. Apesar de algumas pessoas terem pensado que a utilização da voz como meio de leitura iria tornar o Braille obsoleto, tal não aconteceu, sendo actualmente possível imprimir-se directamente do PC para Braille, usar um terminal Braille, mais conhecido por linha Braille, que converte o texto presente no ecrã, e em alguns casos, até gráficos, em caracteres Braille; pode exportar-se um texto normal e recebê-lo convertido em Braille, ou vice-versa, etc. Ainda recentemente, concretamente no ano passado, passou também a estar acessível a esta camada da população o mercado dos PDA e dos telemóveis inteligentes, por adaptação de leitores de ecrã a esses sistemas operativos, dando-nos a certeza de que a evolução não será tão prejudicial aos deficientes como alguns dentre eles julgam, sendo apenas necessário esperar um curto período de tempo para que apareçam as ferramentas que os irão tornar acessíveis... Cada vez há mais cegos a utilizar a Informática e não dão por mal empregado o tempo e o dinheiro investido, embora o factor preço seja um dos grandes obstáculos à sua massificação. Março de 2004 José Fernandes da Silva

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