quinta-feira, 29 de março de 2012

Pessoa com deficiência visual cultural Seriam cegos apenas aqueles que não enxergam? Ou eu seria taxado de maluco se eu dissesse que há cegos que tem a visão perfeita? E, se da mesma forma, eu dissesse que existem sujeitos com baixa visão que tem os olhos sem qualquer comprometimento biológico ou patológico? Enfim, acho que não fiquei doido, afinal passei a notar a existência dos cegos (ou com baixa visão) culturais. São aqueles que mesmo enxergando “perfeitamente” (ou de acordo com o que a medicina acha bom) agem, lutam, sentem e vivem como se tivesse deficiência visual. Depois de uma série de acontecimentos e de minhas constantes observações, pude perceber que embora muitos cegos tentem apagar esta marca ou se colocarem em uma posição de inferioridade (muito comum em algumas associações em POA), há aquelas pessoas que são deficientes visuais por opção. Não que elas decidam deixar de enxergar, mas sim, de estarem estimuladas a ponto de enfrentarem uma série de dificuldades e batalhas em favor de nosso grupo social. Muitas dessas pessoas são nossos familiares e amigos que convivem e presenciam as dificuldades e as belezas de se ter deficiência visual (cito aqui meus pais por exemplo, que aos poucos estão aprenderam a sê-lo). Uns compreendem mais outros menos, mas a maioria passa pela barreira da vitimização e do compadecimento rumo ao entendimento de que temos nossos direitos, nossas marcas culturais enquanto sujeitos com deficiência visual, e que portanto, merecemos ter contempladas as particularidades de nossa diferença.. Posso citar vários exemplos aqui: Patrícia Mianes (minha esposa), as amigas Letícia Schwartz, Mimi Aragón, Márcia Caspary, Lisi Silveira e outras tantas pessoas que pensam, agem e sentem como se tivessem deficiência visual. Essas pessoas são até mais importantes do que muitos cegos por ai, afinal, ao invés de se conformarem com a mesmice e com o tal: “ah, foi sempre assim mesmo”, vão à luta e cotidianamente disseminam a ideia da deficiência visual como uma característica e não como um defeito. Ter em conta que a deficiência visual é uma característica social – e não nego a materialidade do fato – confere uma série de benefícios. Dentre eles, está a consolidação e identificação de um grupo social, que como diz minha amiga Marilena Assis: “não precisa só de inclusão, precisa de satisfação”. Ou seja, pensar nessa perspectiva significa fazer da deficiência visual não um fardo, mas um pote de ouro. Portanto, essas são ainda reflexões incipientes, mas acho que se pensarmos nas pessoas com deficiência visual como um grupo em que não precisa de laudos nem da alcunha da deficiência para participar. Basta simplesmente que os interessados ostentem com orgulho e alegria o estandarte da cegueira, não por desígnio, mas por escolha... Postado por Felipe Mianes

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